Ler Henrique Senna Fernandes

E descobrir o Macau que não conheceremos, e que não é o nosso.

PERSEPOLIS

De Marjane Satrapi, conta (para já ? / pelo menos ?) com dois volumes.

O primeiro, encantador, lido num ápice, deixa na memória um travo que é primo dos tempos em que a Mafalda era folheada com avidez e contentamento. O contexto é outro, obviamente. O tempo também. Ainda assim, digam lá se não concordam: quem diz “The revolution is like a bicycle. When the wheels don’t turn, it falls” merece ter a Liberdade por irmã.

O segundo faz pensar na “nossa” (in)capacidade de receber emigrantes, e perde quando, depois do meio, já não consegue senão entrar em discurso directo, explicitamente explicativo, para fazer o retrato que antes era eminentemente gráfico.

A LENDA DE MARTIM REGOS

Vem de há muito esta nossa inclinação, de nos lançarmos ao mundo para o descobrir e aprendermos com ele.

Nascido no Ribatejo no ano de 1453, Martim Regos passa por tudo: por causa da putaria, da bruxaria, do negócio do sabão e do arrelio que traz aos senhores que tudo podem, é escorraçado da terra-mãe (demos graças por isso!) e vai parar a Lisboa, onde anda primeiro aos caídos e passa fome, mas logo aprende a viver de artimanhas.

Um dia, conhece um velho que lhe fala de terras longínquas e de riquezas infindáveis. Embarca.


Para não estragar o prazer da descoberta, digo-vos apenas que passa por Castela, por Terras de Vera Cruz, pelo Continente negro, vai em busca da nascente do Nilo, transita por Goa, passa pela terra das gentes de olhos rasgados, pela “ilha dos amores”, etc – isto, porquanto há tempos em que quer ser rico, outros em que quer ser sábio, outros em que quer ser rei,...

PROMETIDO AO CHIQUITO, que entretanto encetou um outro livro e que certamente não se importará que este seja entrementes confiado a outrem, que prometa entregar-lho logo após havê-lo folheado até ao fim.

LÍNGUA GERAL

José Eduardo Agualusa e duas sócias trazem-nos esta nova editora, para divulgar a língua portuguesa e "novos talentos" da mesma. Por enquanto, os livros só estão disponíveis nas prateleiras das livrarias do país quase continente. Um dia, chegará a nossa vez.

SONHOS TROPICAIS

De Moacyr Scliar, escritor brasileiro.

Scliar, o autor: Médico – desde 1963. Especialista em saúde pública, onde começou a trabalhar em 1969. Frequentou em 1970 um curso de pós-graduação em medicina em Israel e tornou-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Actualmente é professor de Medicina Preventiva da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre. E escreve – daquela forma e com histórias que nos prendem.

Oswaldo Cruz, a personagem. Médico, formado na Europa, passa pelo Instituto Pasteur, conhece Lombroso e outras figuras de referência. De volta ao Rio de Janeiro, enceta o combate à febre amarela e as suas iniciativas dão causa à Revolta da Vacina, levantamento popular de oposição à primeira campanha de vacinação obrigatória - pois claro, que desfaçatez, a de querer espetar agulhas nas gentes, revelando-lhes as carnes!!? Por sua causa, dão-se aliás muitos outros episódios “reaccionários” (e cómicos aos olhos do leitor de hoje). Então figura do governo, sofre os revés da falta de diplomacia. Depois da política maior, dedica-se a um Instituto que funda.

Retrato histórico, bem temperado pela ficção.

Fica a vontade de descobrir a restante obra, na qual cabe “Max e os Felinos”, que Yann Martel (autor de “The life of Pi”) admite ter lido, mas não plagiado (!).

Soube agora que “Sonhos Tropicais” foi entretanto adaptado ao cinema – será que o filme faz jus ao livro?..

MILA 18

De Leon Uris.

Houve tempos em que alguns livros se liam às escondidas e só chegavam às mãos de quem os lia pelas mãos amigas de outros rebeldes, em partilhas consabidamente carregadas de riscos. Talvez esse desvio desse um sabor maior ao que se lia – durante muito tempo, desconfiei que assim pudesse ser ...até que um dia de Dezembro me foi estendido um embrulho. Pela forma, era fácil adivinhar que era um objecto folheado. Nesse dia, recebi um dos livros de que tinha ouvido falar tantas vezes e dei por chegada a minha hora de descoberta. Obrigado, mãe.

Como tu me deste a oportunidade de descobri-lo, assim eu o dou a conhecer, porque vale efectivamente a pena - deixem-se levar pelo grito de quem teve medo e lutou pela sobrevivência num bairro de Varsóvia, gueto judeu, palco do extermínio ensaiado. Um livro de referência.

Nota final: entretanto, comprei o Uprising, só porque a sinopse dele me recordou imediatamente este livro. Prometo um apontamento para breve em luzductu.blogspot.com.

LILLIAS FRASER

De Hélia Correia.

Lillias, menina, escocesa, sobrevivente da batalha de Culloden, de 1746. Em fuga e em degredo, embarca para Lisboa, suja, muda, vidente. Pré-vê o terramoto de 1755 e vive o que se lhe segue. Rato imundo de cozinha, dejecto humano nos escombros, passa pela conventualidade e por muito mais.

Prémio de romance do PEN Clube Português em 2001. Fantástico e excelente.

É impossível ficar indiferente às palavras que Hélia Correia nos estende para o caminho. A mim, conquistou-me.

PRIMEIRO EXEMPLAR, COM ANOTAÇÕES PESSOAIS, CONFIADO À JOANA LOURENÇO. SEGUNDO EXEMPLAR ADQUIRIDO ENTRETANTO, PORQUE O PRIMEIRO APANHOU CHUVA E JÁ NÃO ESTÁ NO MELHOR ESTADO - AINDA ASSIM, CONFIO QUE UM DIA ME SEJA DEVOLVIDO. TEREI PACIÊNCIA PARA REPRODUZIR NO SEGUNDO AS ANOTAÇÕES DO PRIMEIRO? :-.)

OFERECIDO À SUSANA ALMEIDA, QUE NÃO GOSTOU. :-.(

REQUIEM PARA O NAVEGADOR SOLITÁRIO

De Luís Cardoso.

Catarina, nascida lótus de seda. Prometida e feita "enviado" a Timor. Ingénua.

Em plena Segunda Guerra Mundial, é feita mais um gato no porto.

Há a tensão da guerra e há os negócios - do café e outros (...das transigências e dos acordos).

Os Homens - Portugueses, autóctones, Japoneses e outros.

As mulheres - criaturas de fantasia.

O poder e a luta para o conseguir.

Paralelamente a tudo isto há Alain, perseguindo o sol e referência maior de Catarina.


Fica a curiosidade de descobrir A Última Morte do Coronel Santiago e os outros. Lamenta-se no entanto a pressa da escrita, que se atropela e diminui o texto.

GRACIAS A ALICIA.